A violência no trabalho, apesar de sempre existir, passou a ser estudada apenas no final do Século XX. A Organização Internacional do Trabalho caracteriza a violência no trabalho como “qualquer ação, incidente ou comportamento baseado em uma conduta voluntária, em consequência da qual uma pessoa é agredida, ameaçada ou ferida, durante a realização, ou como resultado direto de seu dia de trabalho”.
Assédio moral no trabalho, segundo Freitas, Heloani e Barreto, é “uma conduta abusiva, intencional, frequente e repetida, que ocorre no ambiente de trabalho e que visa diminuir, humilhar, vexar, constranger, desqualificar e demolir psiquicamente um indivíduo ou um grupo, degradando as suas condições de trabalho, atingindo a sua dignidade e colocando em risco a sua integridade pessoal e profissional”.
Os autores ressaltam que o assédio moral não recebe atenção quando a situação está se desenvolvendo e sim, apenas quando já está estabelecido, com causas médicas ou jurídicas presentes, pois geralmente começa de forma sutil, é predominantemente psicológico e dificilmente identifica-se um incidente crítico.
Para Freitas, “As condições de trabalho e a organização do trabalho devem ser avaliadas quando se aborda o fenômeno assédio moral no trabalho, pois no contexto onde há deficiências nesses quesitos, o assédio encontra espaço”.
O autor complementa: “O trabalho, alçado a uma das esferas centrais da vida, fonte de satisfação de necessidades, possibilidade de autonomia e independência, permite a realização de sonhos, desenvolvimento de relações interpessoais e sobrevivência, mas também pode apresentar risco para a saúde e tornar-se motivo de adoecimento”.
O indivíduo moralmente assediado é vítima de vários transtornos físicos e psicológicos. A família também sofre as consequências do assédio. Hirigoyen salienta: “Não se morre diretamente de todas essas agressões, mas perde-se uma parte de si mesmo. Volta-se para casa a cada noite, exausto, humilhado, deprimido. E é difícil recuperar-se.”
Para a autora, “o assédio atinge a identidade do indivíduo tão profundamente a ponto de ele sentir que é culpado pelo seu sofrimento”. Barreto destaca o impacto psicológico decorrente do assédio moral: tristeza, ansiedade, cansaço, desequilíbrio do sono, frustração, baixa autoestima, transtornos paranoides e ideias de suicídio.
Hirigoyen destaca algumas situações que favorecem o assédio:
- Indivíduo com alguma característica atípica do grupo,
- Competência excessiva,
- Resistência à padronização,
- Baixa produtividade,
- Fragilidade temporária.
Freitas considera que a cultura, a permissividade e competição excessiva podem estabelecer relações desrespeitosas.
Segundo Nunes para coibir essa prática, “a organização deveria ter políticas de prevenção e punições, mas como não existem, acabam por estimulá-la, em prol de um desempenho excelente”.
Freitas, Heloani, e Barreto afirmam que “Quando consideramos o assédio moral uma questão organizacional, entendemos que algumas empresas negligenciem os aspectos desencadeadores desse fenômeno, ou seja, consideramos que o assédio moral ocorra não porque os dirigentes o desejem, mas porque eles se omitem”.
Fontes:
Barreto, M. M. S. (2006) Violência, saúde e trabalho: uma jornada de humilhações. São Paulo: EDUC.
Chappell, D., & Di Martino, V. (2006). Violence at work. Geneva: ILO, International Labour Organization.
Freitas, M.E. (2001). Assédio moral e assédio sexual: faces do poder perverso nas organizações. Revista de Administração de Empresas, 41(2), 8-19.
Freitas, M. E. (2007). Quem paga a conta do assédio moral no trabalho? Revista de administração eletrônica, 6(1).
Freitas, M. E. de. (2011). Suicídio, um problema organizacional. GV Executivo, 10(1), 54-57.
Freitas, M. E., Heloani, R., & Barreto, M. (2008). Assédio moral no trabalho. São Paulo: Cengage Learning.
Hirigoyen, M. (1998). Assédio moral: A violência perversa no cotidiano. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil.
Hirigoyen, M. (2001). Mal-estar no trabalho: redefinindo o assédio moral. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil.
Nunes, T. S. (2011). Assédio moral no trabalho: O contexto dos servidores da Universidade Federal de Santa Catarina. (Dissertação de Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Administração, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.
Excelente! Tema bastante atual, que requer um olhar atento das organizações. Parabéns Bia, pela contribuição. Texto bem embasado, permitindo uma leitura leve e reflexiva.
Rosa, eu quem agradeço suas importantes considerações!
Falamos pouco sobre um assunto tão importante e que acontece mais do que a gente imagina. Precisamos ficar atentos e dar a nossa contribuição enquanto RH. Muito bom Bia!!!
Concordo, Solange! Muitíssimo grata!
Ótimo texto para tema atual. Grata Bia
Muitíssimo grata, Tamara!